A HISTÓRIA DO BRASIL NAS RUAS DE PARIS | LITERATURA

CAPA-A-história-do-Brasil-nas-ruas-de-Paris1Com o humor de um almanaque, as referências de um livro de história e as informações relevantes para um guia de viagens, o livro de Maurício Torres Assumpção, publicado pela Casa da Palavra, é um divertido passeio por Paris. Diversos momentos da Cidade Luz se confundem com marcos brasileiros e a cronologia se encontra nos pontos turísticos da Paris de hoje.

Quem abre as portas da cidade aos brasileiros no livro, como escreve o autor, é D. Pedro I, que abdicou do trono brasileiro e foi buscar apoio na França para investir contra D. Manuel, rei de Portugal. Enquanto negociava, aguadava o nascimento da filha, antes do qual não partiria em guerra. Foi tempo suficiente para visitar teatros, apresentar suas composições, mudar-se de residência e ajudar na fundação da Coluna de Julho, onde antes havia a famosa Bastilha da Revolução Francesa.

Depois de rápida passagem pelos positivistas e seus conflitos entre ciência e religião, influentes no Brasil da postura política à bandeira, vamos ao filho, D. Pedro II. Após muito tempo sem sair do reino, o imperador desabrochou depois da primeira viagem e fez, até sua morte em Paris, quatro visitas à cidade que anos antes acolhera o pai. Interessante notar algumas coincidências no comportamento dos dois, nos locais que visitavam e mesmo nas relações que tinham com as pessoas, mas o filho bem mais empático que o pai.

Como bom professor de História, Maurício Assumpção mistura nomes e datas das construções e reformas a momentos atuais, como ao falar do Castelo de Chantilly, onde D. Pedro festejou o revéillon para 1872. Entre dados do dono, da reforma e da atual posse, não hesita em lembrar que Ronaldo Fofômeno casou-se ali com Daniella Cicarelli, da qual se separou três meses depois, talvez amaldiçoados pela história triste de família que o castelo carrega.

Pensar em brasileiros históricos que marcaram Paris é lembrar de Santos Dumont, que tem uma placa no meio do Champs Elisées, a avenida mais célebre da cidade, destacando onde certa vez aterrisou para tomar café em casa. O inventor mineiro chamou muito a atenção dos parisienses com suas experiência aéreas, que culminaram no famoso voo do 14-bis, marco do início da aviação. Não começaram ou termiram por aí: foram voos estapafúrdios, como no que almoçou em pleno ar, mas não havia tempo para a sesta, pois chegava o momento do pouso (tampouco para o charuto, ou o hidrogênio poderia incendiar o balão).

Se Dumont levava alguma timidez dos morros de onde nasceu, não se pode dizer o mesmo do Selvagem de Paris, Heitor Villa-Lobos, que, como destacado na epígrafe do capítulo, não foi à França para estudar, mas para mostrar o que fez. Era o modernismo brasileiro desembarcando em solo francês, misturando ritmos, cores e sons, dialogando com o jazz que se desenvolvia por lá enquanto misturava erudito e popular, com pitadas tupiniquins. Dos bares às salas de concerto, Villa-Logos e seus companheiros fizeram de Paris, mais uma vez, uma festa.

Assumpção tem nas pessoas e seus trabalhos referências para lugares a serem conhecidos na cidade hoje. Lugares, muitas vezes, não apenas visitados e tocados por brasileiros, mas pensados por eles ou utilizados como referências para se construir outros no Brasil. Os dois últimos capítulos acompanham Lúcio Costa e Oscar Niemeyer por Paris, os autores de Brasília. Levaram e buscaram informações na troca urbanística e arquitetônica, e os passeios indicados pelo livro levam o flanêur a essas referências.

Pontuado por imagens e referências audiovisuais, que podem ser buscadas com QR Code durante a leitura, o livro, embora grande (a não ser que na versão eletrônica), pode ser um ótimo companheiro de viagem. Ou, tanto melhor, uma viagem antes da viagem, pois o autor conversa com o leitor como se estivessem diante ou dentro dos lugares, por vezes naquele momento em que imperador, arquiteto ou compositor ocupam as mesas, as poltronas e as ruas dos lugares mencionados. É livro para ser lido, anotado, fichado e, pelo menos em anotações, levado para Paris, que ele conhece tão bem.