A QUEDA DA CASA DE USHER | KINOS

A Queda da Casa de Usher
A Queda da Casa de Usher

A queda da casa de Usher está entre os contos mais conhecidos de Edgar Allan Poe. Muitos o colocam ao lado de Crimes da Rua Morgue, O poço e o pêndulo e do poema O corvo como alguns de seus melhores trabalhos. Aos admiradores do escritor, qualquer destaque seria injustiça. Usher, além dos elementos sombrios característicos de Poe, de personagens misteriosos e de referências artísticas, nesse caso, à pintura, ainda tem como um dos elementos principais a casa, único conto em que esse tipo de espaço dialoga com os personagens.

Inspirados por isso, dois diretores de tempos e lugares diferentes resolveram lançar suas lentes sobre o conto. Jean Epstein, em 1928, misturou sonho e realidade ao movimentar sua câmera sob o olhar de Roderick. Do tempo em que o cinema buscava suas formas de expressão, Epstein não teve pudores ao misturar linguagens e experimentar sensações para levar à tela a sombria história da casa.

Roderick é pintor, como manda o conto, e apaixonado pela imagem da esposa, Madeleine, a qual retrata incessantemente. É Allan, amigo de Roderick Usher, quem se alarma diante da exaustão da mulher a cada vez que posa para o marido, sendo a consequência inevitável: a morte de Madeleine Usher. A insanidade de Roderick a rodopiar pela casa com o corpo da esposa é destaque na obra, que excede em pouco tempo uma hora. A câmera acompanha seu rosto sem preocupar-se com o foco e gira como se fascinada por ele, como o viúvo pela morta. Jean Debucourt, que interpreta Roderick, tem olhar penetrante e em nada deixa a desejar para seu substituto de 1960.

O corpo de Madeleine vai ao sepulcro da família e é velado por uma coruja e um casal de sapos em cópula, enquanto Roderick se deixa levar pela melodia que toca e que remete a imagens, impressões, de terra, ar e água. Por muitos tido como surrealista, o filme não nega momentos impressionistas ou experessionistas, como no rosto dos atores, na contante noção de que Roderick é quem merece atenção do espectador ou no momento em que Madeleine volta dos mortos, com o véu balançando pelo vento, provável inspiração para A noiva cadáver, de Tim Burton.

Em 1960, foi Roger Corman, conhecido pelos filmes B, que retomou o clássico de Poe, com novo olhar, sob o roteiro de Richard Matheson, recorrente no gênero assombroso. Roderick tenta proteger a irmã Madeleine do noivo Philip Winthrop, que chega à mansão cercada por árvores secas e por um lago. Sem escolha, Roderick permite que o visitante se hospede na casa e em pouco tempo o estranho percebe que algo não está certo ali. O toque de filme B de Corman se mostra no início dessa hospedagem, quando uma vela se move sobre a mesa e, no take seguinte, com o quarto todo à mostra, os olhos do espectador voltam-se para a vela, só que nada acontece com ela. A casa, no entanto, está viva, pois mostra crescentes rachaduras e tremores.

Roderick tenta esconder a irmã, alega que ela padece de um mal que a toma as energias, mas ela sai da cama para receber o amado. O tempo todo, Vincent Price, astro de filmes de terror da Universal, mostra-se o melhor em cena, com olhares firmes, rosto tenso e carga dramática suficiente para encaixar-se na atmosfera saturada da casa. Se do lado de fora tudo parece pálido, no interior, Roderick veste-se num vermelho forte, mostrando que o sangue dos Usher é forte nele, e o mesmo acontece com Madeleine, que ele mata, mas que volta coberta de sangue sobre o vestido branco para vingar-se.

A dinastia dos Usher está presente nesta versão, com quadros expressionistas nas paredes, mostrando o quanto a maldição assola aquela casa. A cada quadro, tem-se a impressão de que a figura retratada vai se mover ou sair dali para mostrar ao visitante que ele está no lugar errado. Isso acaba por acontecer no sonho, cena antológica de Corman, em que filtros de diferentes cores mostram o teor onírico da cena e nem por isso diminuem a angústia do personagem que busca por sua amada. Mal sabe ele que tudo pode ser pior ao acordar.

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