APENAS UM DIA | LITERATURA

Apenas Um Dia
Apenas Um Dia

Desconfio haver uma disciplina secreta ensinada nos cursos de Publicidade e Propaganda e/ou Produção Editorial, algo como “Marketing da crueldade”. Só isso explica, por exemplo, a estratégia de fazer com que os leitores se deparem, ao fim de um livro, com um primeiro capítulo instigante de outro romance do mesmo autor, só para serem obrigados a esperar ansiosamente por sua publicação e consequente leitura voraz.

Tudo bem, admito ser uma crueldade boa, se é que tal paradoxo existe. Admito também que a Novo Conceito nem me fez aguardar tanto tempo assim (apesar da enorme ansiedade) para ler Apenas um dia, de Gayle Forman, cujo primeiro capítulo foi publicado ao fim de Para onde ela foi (continuação do best-seller transformado em filme Se eu ficar). Eu mesma é que tive que esperar um pouco para escrever sobre ele, o o que é comum quando gosto muito de alguma coisa, como se colocar imediatamente as impressões no texto as fizesse desmanchar. E nunca quero que se desmanchem; quero que sejam permanentes.

Não sei se Apenas um dia está tendo ou terá o mesmo destino estelar da série anterior da autora, mas, pessoalmente, considero-o melhor, porque fala sobre a importância de enfrentar as próprias limitações e se arriscar no desconhecido – mesmo tendo que lidar com decepções depois. Até decepções são descobertas.

No romance, a organizada, sistemática e “boazinha” Allyson Healey conhece, no último dia de sua excursão programada à Europa, o ator mambembe Willem, que é totalmente seu oposto. Fascinada por ele e cansada do estereótipo em que todos a enquadram (inclusive ela mesma), decide aceitar o convite dele para adiar seus compromissos por um dia e passá-lo com ele. Em Paris.

Com Willem, nessas 24 horas, a garota não é mais aquela que segue as horas e as regras. Não é nem mais Allyson, mas apenas a livre “Lulu”. Romper com as normas que nós mesmos nos impomos, porém, é arriscado. Perigoso até. E se o clichê da ousadia diz que, se é para cair, melhor que seja dos lugares bem altos, é válido saber que Allyson despenca.

Esse percalço não é abordado no livro como um conselho de “não se arrisque”. Pelo contrário. Como a própria sinopse na quarta capa revela, “para nos encontrarmos, precisamos nos perder primeiro”. Isso vale também para a própria experiência da leitura, que termina, mais uma vez, de forma cruel: a ansiedade pela continuação da trama, Apenas um ano, pelo ponto de vista de Willem. Crueldade boa mesmo, vá lá! Não dizem que o melhor da festa é esperar por ela? E toda espera por um livro, como a história de Allyson, é um risco. Mas também uma aposta de fé.