DE REPENTE, ANA | LITERATURA

De Repente, Ana
De repente, Ana

A primeira pessoa a me falar de Marina Carvalho foi minha amiga, também escritora, Carol Sabar. Na ocasião, Carol, que tinha lançado havia pouco tempo seu primeiro livro e sido lida por uma entusiasmada Marina, tratava a conterrânea (as duas são mineiras) como uma promessa do estilo chick-lit nacional. Lembro-me de ter pensado quando ela me contou a sinopse da garota brasileira que, de um dia para o outro, descobre ser princesa de um remoto país fictício europeu: “Peraí! Isso já não foi feito?” (não li nenhum dos livros da famosa série de Meg Cabot, mas assisti ao filme que revelou Anne Hathaway para o cinema). Carol afirmou que eram bem diferentes, mas, mesmo assim, fiquei com o pé atrás.

Depois veio a adaptação de A megera domada, de Shakespeare, para o universo estudantil, com o e-book Ela é uma fera! Novamente veio a mesma sensação ao recordar os encontros e desencontros de Heath Ledger e Julia Stiles em Dez coisas que eu odeio em você. Como não se vence um pré-conceito apenas o observando de longe e eu não tenha o hábito de fazer críticas àquilo que não conheço, li os dois livros. E depois os outros dois: Azul da cor do mar e o recentíssimo De repente, Ana, a continuação da história da princesa. E, no meio daqueles e destes, uma entrevista na qual procurei Marina para falar daquilo que, na verdade, é o que mais me impressiona nela: o fato de ser professora de literatura e dar aulas para adolescentes. Nesse ínterim, Marina já não é mais promessa. É um nome reconhecido na nova literatura juvenil brasileira.

Na matéria, que pode ser lida na íntegra aqui, na edição 23 da Revista Conteúdo, eu lembrava que quem atua na docência dessas duas disciplinas, sabe o quão difícil é o papel de dar conta dos conteúdos obrigatórios de ambas, inserindo na vida dos estudantes algumas das obras consagradas e dos estilos que marcam a história da literatura brasileira e de Língua Portuguesa e, ao mesmo tempo, despertar neles o simples prazer pela leitura.

Sobre essa tarefa e as formas como os professores podem tornar esses conteúdos mais atrativos para os alunos, Marina opinou, na entrevista, que, atualmente, “não dá mais para ensinar apenas o português ‘gramatiqueiro’, amarrado às regras”. “Nossa língua é a principal ferramenta de comunicação entre os brasileiros e deve ser tratada como tal. Os alunos precisam ter, acima de tudo, consciência de que, para se comunicar, em diferentes contextos, é necessário ter o domínio da língua em suas variações. Quanto à literatura, penso que anos de imposições afastaram os jovens das histórias. A obrigatoriedade de leitura de determinados títulos causou, por muitos anos, uma aversão aos livros. Atualmente o ensino da literatura é entrelaçado ao contexto histórico em que autores e obras estão inseridos. Muito mais que reconhecer as escolas literárias, os alunos são estimulados a refletir sobre a importância de uma obra para determinada época.”

Nessa perspectiva, os livros de Marina possuem o principal mérito de falar diretamente para essa juventude, com uma linguagem despretensiosa e uma narrativa direta e fluida, sobre questões que, de certa forma, eles enfrentam. É dizer a eles, fazendo um trocadilho com os títulos da saga da princesa Ana, que simplesmente leiam, porque só assim serão, de repente, leitores. E gostarão disso.

Nessa perspectiva, De repente, Ana cumpre bem seu papel. Mais uma vez a protagonista, mesmo inserida em seu conto de fadas particular e numa trama salpicada de mistérios e tramoias mirabolantes típicas dos jogos de poder e sucessões, vê-se envolta por situações e dúvidas juvenis muito reais: o medo de perder o pai, o ciúme do namorado, a dúvida e a insegurança sobre estar pronta ou não para assumir responsabilidades que a chegada à vida adulta impõe.

O livro foi superaguardado pelos fãs de Marina nas redes sociais, assim como já está sendo esperado o terceiro volume da trilogia. Tanta expectativa não deixa de ser sinal de missão cumprida.