EVE & ADAM | LITERATURA

Eve & Adam
Eve & Adam

Terra Spiker é uma das pessoas mais temidas no mundo das pesquisas genéticas: mulher inteligente, gestora de pulso firme da empresa que leva seu nome, dona de frases ríspidas e tratamento considerado pouco gentil pelos que convivem com ela. A maioria dos funcionários da empresa, ou melhor, a maioria das pessoas que a conhecem tem medo dela. Imagine ser filha dessa mulher.

Evening é uma Spiker, mas ela mesma não se identifica com a mãe. Simpática e sensível, parece ter puxado o pai, escultor que morreu em um acidente de carro perto da empresa de Terra. Eve, como muitos a chamam, é também inteligente, mas prefere dedicar suas energias ao desenho.

Observadora do mundo, Eve se incomoda com uma maçã vermelha em meio a muitas verdes na barraca de frutas perto da escola e isso é suficiente para que um carro a encontre e a jogue pelos ares, quase arrancando-lhe a perna. (Fica o alerta para quem anda pela rua olhando para o celular.) E quem conta tudo isso é a própria Eve, pois os capítulos são narrados em primeira pessoa.

Por boa parte do livro, quem divide os capítulos com ela é Solo, um jovem que trabalha no complexo Spiker e vai com Terra encontrar a filha semi-consciente no hospital. Em alguns momentos, acompanhamos a sequência do ponto de vista de Solo, em outros, a partir da cabeça de Eve, mas para isso depende de ela estar consciente.

Terra Spiker usa seu poder de convencimento para tirar Eve do hospital, onde o médico que a operou insiste que ela deve ficar ou pode morrer. Terra a leva para seu complexo, onde diz que teria profissionais para atendê-la e pronto, está feita a transferência. Quase incomunicável, é lá que Eve se recupera, recebendo constantes visitas de Solo e doida para encontrar Aislin, sua amiga que está longe das graças da Dra. Spiker.

Basta um primeiro encontro e pode-se dar razão a Terra Spiker. O namorado de Aislin está sempre envolvido em questões ilícitas e, enquando as amigas conversam, ele liga para dizer que está em apuros, perseguido e ameaçado por bandidos aos quais ele deve dinheiro. Não bastasse essa tensão fora do complexo Spiker, no mesmo momento Eve descobre que seu potencial de cura é maior do que o normal, pois sua perna, quase perdida, está como nova.

Os mistérios não acabam por aí: Solo mora e trabalha no complexo, buscando caminhos para encontrar provas que possam comprometer Terra Spiker e levá-la à cadeia, pois acredita que ter sido acolhido ali apenas por caridade após os pais dele terem morrido. Existem também pesquisas estranhas acontecendo nos diferentes andares do prédio e é nessas condições que encontramos o Adam do título.

Para não ficar ociosa e pensando bobagem enquanto está internada, Terra chama a filha para trabalhar em um projeto: construir o homem perfeito. Como gosta de genética, Eve se diverte num programa de computador em que vai manipulando os genes para desenvolver, da expressão dos olhos à cor do cabelo, sem esquecer da inteligência e do comportamento, aquele que seria o homem ideal.

Em determinado ponto da história, esse terceiro elemento também começa a narrar: Adam é real e podemos ver o mundo a partir de seus olhos. Com três narradores, o ritmo acelera e passado e presente se misturam pelas ruas de São Francisco ou pelos corredores do enorme complexo Spiker.

A discussão proposta por Michael Grant e Katherine Applegate passa pelas possibilidades da genética, sobretudo com uma discussão a respeito de ética médica, que é o pano de fundo para a trama se desenrolar. Valores humanos e científicos podem levar a boas conversas sobre o assunto, tendo Eve, Solo e Adam como iniciadores do assunto.

Com um humor adolescente, a história não se perde em piadinhas sobre homens bonitos e perfeitos: faz disso ferramenta para caracterizar personagens (mesmo que com alguns exageros de vez em quando) e levar o leitor a acompanhar sem muito esforço os antagonismos enfrentados por eles.