FOXCATCHER – UMA HISTÓRIA QUE CHOCOU O MUNDO | CRÍTICA – OSCAR 2015

Foxcatcher - Uma História que Chocou o Mundo
Foxcatcher – Uma História que Chocou o Mundo

Desde o início do ano passado, nos mais variados festivais, um filme era recebido das mais diferentes formas pelo público e pela crítica. Foxcatcher – Uma História que Chocou o Mundo é um daqueles filmes que vieram para desafiar o espectador a acompanhá-lo até fim sem tomar partido, ou se enfadar, apenas observar o desenrolar da trama bizarra durante mais de duas horas de projeção. E mais uma vez, Bennet Miller prova que sabe muito bem o que está fazendo, com uma direção respeitável e segura, além de extrair ótimas atuações de seu elenco, em especial um irreconhecível Steve Carrell.

Sim, a história é estranha! O campeão olímpico de luta Greco-romana Mark Schultz (Channing Tatum, ótimo) está passando por um momento difícil na academia onde treina ao lado de seu irmão mais velho, a lenda da modalidade Dave Schultz (Mark Ruffalo, em grande forma). De repente, ele recebe uma ligação para que vá visitar o milionário excêntrico John Du Pont (Steve Carrell, ótimo) que oferece a ele e a seu irmão a oportunidade de ter uma grande estrutura para dar prosseguimento em suas carreiras, e mais, incentivar o orgulho pela nação (!?). Depois de resistir, Dave aceita o convite, só que quando ele chega a Foxcatcher, percebe que a relação entre seu irmão e Du Pont é muito estranha e tudo aquilo termina em uma inesperada fatalidade.

O enredo de Foxcatcher – Uma História que Chocou o Mundo é o que menos interessa ao público, além de ser uma história de conhecimento público, o interessante em questão não é o “o quê”, mas o “como” foi construído a linha narrativa. Dan Futterman, que já trabalhou com Bennett Miller em Capote (2006) parece mergulhar em um transe que o torna capaz de criar um roteiro original através de informações simples. Além disso, consegue criar enlaces que às vezes são mais complexos do que deveriam ser. Neste caso, o roteiro não se concentra em algo específico, como em Capote, onde o pano de fundo para biografia do escritor levantasse uma discussão sobre a pena de morte.

Nessa linha é que brilha o trabalho de Miller. O diretor entende que não há uma atmosfera específica que direcione seu olhar, pois se trata de algo sem noção, com personagens estranhos e que qualquer posicionamento de sua parte invocaria um sentimento ao espectador fajuto. Sim, existem sugestões, como homossexualismo, complexo de Édipo, insanidade, mas tudo depende mais de uma concepção pessoal. Então, diferentemente da forma em que “canonizou” o Billy Beane de Brad Pitt em seu bom O Homem que Mudou o Jogo (2011), aqui ele parece indiferente aos seus personagens, deixa os acontecimentos serem o fiel da balança. Essa neutralidade do conteúdo do filme mostra certo brilhantismo de Miller, pois assim como gênio Robert Altman fez em Assassinato em Gosford Park (2001), não há moral da história, apenas fatos.

Porém, essa preocupação em demasia com o “como” deixa o longa no fio da navalha em relação ao público. Muito podem tomá-lo como uma reportagem de telejornal sensacionalista, sem causa ou efeito, apenas uma repulsa momentânea, mas fadada ao esquecimento. Sim, o elenco pode sim valorizar a obra, já que temos um ator mediano, Ruffalo, um ainda em processo de formação, Tatum, e um comediante caricato, Carrell, em atuações acima da média. Em especial esse último, que consegue superar a maquiagem e um belo nariz de mentira para conseguir cativar os membros da Academia e arrancar uma indicação ao Oscar. Ainda assim, a condição de existência mais racional do que emocional de Foxcatcher pode render uma antipatia tão grande, que seus atores até podem ser injustiçados.

Pode ser que o filme surpreenda e consiga um bom público nos cinemas, mas é provável que agrade mais a crítica. Essa cartilha da neutralidade em que Bennett Miller resolveu se meter lhe trouxe mais experiência, e essa sua curta carreira de três filmes é possível que ganhe um upgrade para lhe dar ainda mais autoridade para filmar da forma como achar melhor. Mas, quem sabe da próxima vez faça um trabalho soberbo e consiga cativar o público com a boa e velha moral da história nas entrelinhas. Aí sim, estará entre os gigantes.

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