HÉRCULES | CRÍTICA

Hércules
Hércules

A mitologia grega é uma das fontes mais interessantes da literatura mundial e seu potencial para o espetáculo fez com que sempre fosse levado às telinhas e às telonas, porém, sem a qualidade visual e textual que se esperava. Um de seus personagens mais famosos, o semideus Hércules, é um dos que mais ganharam a oportunidade de levar seu nome ao Olimpo cinematográfico, entretanto, nunca conseguiu sair do limbo das produções “B”, excetuando a ótima animação da Walt Disney lançada em 1997. E em 2014, parece ter sido sua chance de conseguir dar a volta por cima, pois, seis meses depois de um jovem e humano Hércules estrear e decepcionar, Dwayne “The Rock” Johnson entra de corpo (mais corpo) e alma na história do atormentado herói, sob a batuta do irregular Brett Ratner, para ser a exceção. Mais algo de ruim paira sobre a trama, será uma maldição de Hera?

Hércules (Dwayne Johnson) é um poderoso, famoso e atormentado guerreiro que passa a vida aceitando serviços como mercenário, sempre acompanhado de fiéis e aguerridos guerreiros, incluindo o jovem Iolaus (Reece Ritchie), que vive contando seus feitos grandiosos dos tais doze trabalhos. Quando é procurado pela princesa Megara (Irina Shayk) para salvar seu reino de um terrível vilão, ele terá de provar que está à altura de sua fama. Para isso, contará com a ajuda de seus companheiros para transformar uma população de camponeses em guerreiros destemidos antes que o inimigo desponte no horizonte.

O maior problema deste filme de Ratner não está em seu teor épico, na ação de boa qualidade, e nem caracterização de Johnson como o herói, mas sim não contradição narrativa que o roteiro Evan Spiliotopoulos e Ryan Condal apresenta no decorrer do filme. À primeira vista somos apresentado à lenda, aquele que tentou ser assassinado pela deusa Hera, que realizou os grandiosos doze trabalhos e que assassinou sua família. Logo, tudo nos é passado como um verdadeiro mito, que só ganhou status pelos fervorosos contos de seu sobrinho Iolaus. E essa condição de extraordinário mortal ganha ainda mais força com os flashbacks e insinuações soltas aqui e acolá, assim, como no filme estrelado por Kellas Lutz lançado em fevereiro, acabamos por aceitar tal condição.

Contudo, na parte final do longa somos surpreendidos pela contradição, quando Hércules faz coisas que, mesmo sendo incrivelmente forte, apenas um semideus poderia fazer, incluindo a condição de mover sozinho uma gigantesca estátua de mármore construída por mil homens. Ora, se era para ser humano, que seja humano. Isso enfraquece o texto que tinha sido bem estruturado, com um ar melancólico em seu protagonista e um teor cômico muito bem-vindo, representado em especial pelo vidente Amphiarus (Ian McShane). Mesmo que a reviravolta surpreenda, o incômodo causado pela indecisão do roteiro deixa a sensação de que tudo não passa de um passatempo bobo, quase ridículo se comparado à Tróia (2003) de Wolfgang Petersen, esse sim fiel à sua opção.

Ao que parece, o diretor Brett Ratner não consegue sair de sua média. Mesmo que os filmes como Um Homem de Família (2000), A Hora do Rush 2 (2001) e Dragão Vermelho (2002) tenham sido sucesso de público, sempre apresentam seus erros quando analisados mais a fundo. A forma como conduz a ação sem exagerar nos efeitos visuais, dando ênfase ao corpo à corpo funciona, mas cai na armadilha de seus roteiristas e acaba tentando se tornar excessivamente intimista quando seu personagem ganha status olímpicos.

Dwayne Johnson até consegue ser um simpático herói, quando se limita a gags esporádicas e pancadaria incessante. Mas quando o personagem necessita de um mínimo possível de carga dramática volta a ser aquele “The Rock” que conhecemos, que não muda de cara, no máximo, arregala os olhos e desfila as mais variadas formas de urros. Assim como outros fortões inexpressivos que já protagonizaram a história como Lou Ferrigino e Kevin Sorbo. De nomes famosos no elenco ainda temos John Hurt, Joseph Fiennes e Ian McShane, que por ser o desafogo cômico do filme, acaba se destacando. Os outros apenas fazem número, até porque em nada são exigidos pelo roteiro, a sensação é que estão ali como o personagem principal, esperando o saco de dinheiro ao fim da tarefa.

Enfim, este Hércules não consegue ser grandiosamente “humano” como o bom épico de Petersen, e muito menos mitológico como o mediano Fúria de Titãs (2010), fica perdido em um meio termo que vai agradar apenas quem não faz a menor ideia de como é a história original do personagem. E enquanto esperamos um filme que honre a genialidade do tema apareça por aqui, é melhor ver a doce e musical aventura da Disney, é desenho, mas muito melhor que tudo o que tem sido feito “de verdade”.

Classificação:
Regular