KINGSMAN – SERVIÇO SECRETO | CRÍTICA

Kingsman - Serviço Secreto
Kingsman – Serviço Secreto

Desde a década de 60, quando grandes exemplares do gênero estrelados pelo Agente 007, James Bond, baseados nos romances de Ian Fleming, ganharam as telonas e o público, o gênero da espionagem sempre teve seu lugar cativo no cinema. Seja pelo próprio Bond, que hoje é defendido com honras em bons filmes estrelados por Daniel Craig, seja por outros carregados por ação quase ininterrupta, como o Ethan Hunt de Tom Cruise na franquia Missão Impossível. O fato é que, no Reino Unido, sempre tratou o tema com mais obscuridade, vide o ótimo O Espião que sabia demais (2011). Eis que Matthew Vaugh veio e decidiu que nem sempre precisa ser assim e traz Kingsman – Serviço secreto, uma homenagem bem-humorada e cheia de referências que não perde a essência do gênero.

O indisciplinado Eggsy (Taron Egerton) passa os dias entre uma confusão e outra nos subúrbios de Londres. Eis que um dia, cruza o caminho dele o misterioso Henry (Colin Firth) que o defende em uma briga e o convida a fazer um teste para entrar na Agência Secreta Kingsman. Ele descobre que seu pai já havia sido um postulante a agente como ele e morreu em serviço. Querendo honrar o nome de seu pai, Eggsy se dedica para ajudar a agência a impedir a ascensão do vilão espalhafatoso Valentine (Samuel L. Jackson).

Apesar da pegada cheia de referências e frases de efeito, Kingsman – Serviço secreto não fica só por conta disso e mostra a que veio logo no início com boas cenas de ação. O roteiro de Vaugh em parceria com Jane Goldman, baseado nos quadrinhos de Mark Millar e David Gibbons, preza por ficar em um meio termo interessante, em que não se perde em gags estúpidas como o Agente 86 (2008) estrelato por Steve Carrell, tampouco nem segue uma linha rígida e mais complexa como o excelente Skyfaal (2012), entretanto conserva a base ideal para um bom filme do gênero, pois, os acessórios hi-tech estão lá, assim como cenas de luta instigantes e ação de boa qualidade.

Porém, a peculiaridade fica por conta de sua experiência com filmes de super-heróis em que esteve envolvido, como X-Men – Primeira Classe (2011) e X-Men – Dias de um futuro esquecido (2014), e principalmente o amalucado Kick-Ass (2010). O diretor consegue inserir elementos que carregam as sequencias de ação com um teor farsesco, hiperbólico, mas que ainda se tornam aceitáveis dadas as circunstâncias. A forma como cria um herói imperfeito na forma de Eggsy nos remete ao seu Kick-Ass, mas também é uma concepção de herói um tanto deturpada que caracteriza o Wolverine da Marvel.

O ponto máximo surge com a direção que valoriza seu filme como pode. Travellings loucos, slowmotions e parkours transformam Kingsman em um filme delicioso de se ver, mesmo em momentos de apelo dramático, que sempre conseguem não ser melancólicos em demasia. Além disso, deve-se exaltar o elenco de feras que compraram a idéia de Vaugh. Michael Caine, Colin Firth e Mark Strong dão um toque de classe britânico, mas quem sempre consegue roubar a cena é o vilão fanho e insano de Jackson, que ainda traz a tiracolo uma bizarra assistente com próteses de pernas que partem os inimigos ao meio incorporada por Sofia Boutella.

Se não é um filme comparável aos mais espetaculares de James Bond, e nem segue uma linha psicodramática e ambígua dos anos 60, Kingsman – Serviço secreto consegue ser divertido e ao mesmo tempo fiel às suas raízes. Se ganhar um franquia, poderá tentar buscar novas opções para variar sua narrativa, porém, se vier novos filmes com a mesma pegada e com a mesma qualidade “tarantinesca” no seu desenvolvimento.

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