LIVRAI-NOS DO MAL | EM DVD / BLU-RAY

Livrai-nos Do Mal
Livrai-nos Do Mal

É de conhecimento dos cinéfilos em geral que o gênero do terror anda combalido, vivendo de produções visivelmente “B”, que se aproveitam de histórias de assassinos com fetiches bizarros, e raramente consegue surpreender com filmes como Atividade Paranormal e Invocação do Mal (2013). A situação é ainda mais complicada quando este terror é aquele que mexe com assuntos paranormais, com demônios e possessões, que sempre acabam por cair em uma vala-comum, com estereótipos e situações manjadas, que não conseguem traçar um limite entre religiosidade e absurdo. Para tentar sair desta armadilha, Livrai-nos do Mal traz esta mística para os subúrbios escuros americanos, abandonando o interior, além de criar um climão policial para ajudar na condução da ação.

Quando começa a trabalhar em casos estranhos, como um bebê encontrado no lixo e uma mãe que joga o filho em uma jaula de leões no zoológico, o policial Ralph Sarchie (Eric Bana) parte para uma investigação aprofundada, intrigado com o teor hediondo. Ele então descobre, depois de conversar com os envolvidos nos casos, que uma força sobrenatural foi responsável por influenciá-los. Titubeante, busca na ajuda de Mendoza (Edgar Ramírez), um perito em demonologia, respostas para suas dúvidas. Porém, quanto mais ele se aproxima da verdade, mais terá de expandir seus horizontes e aceitar o mal que vem da escuridão.

Até que a sacada dos roteiristas Paul Boardman e Scott Derrickson (que também dirige) é interessante: transferir todas situações que costumeiramente se desenvolvem do mesmo jeito, nos mesmo cenários e com os mesmos tipos de personagens para algo mais contemporâneo, que explora situações corriqueiras e desesperadoras da sociedade moderna. Totalmente ao contrário do bom O Exorcismo de Emily Rose (2005), dirigido e roteiro pela mesma dupla. Essa composição acaba por colocar o protagonista como um cético que duvida de algo fora do normal em um grau aceitável, já que pode-se entender que no mundo atual, até mesmo figuras imponentes como soldados e policias podem sucumbir à loucura. Ainda assim, a construção do mito dentro de um ambiente policial poderia ter rendido uma discussão maior sobre os limites da razão de não aceitar que tais manifestações possam interferir no comportamento humano.

O clima pesado, conduzido por uma montagem alucinada em conjunto a uma sucessão de efeitos sonoros insinuantes (uivos, gritos, choro), acaba por ser o responsável por distribuir os sustos de maneira ao público ficar incomodado. Talvez pelo fato de que o diretor abuse de closes em rostos carregado com mutiladas e passagens impactantes com sangue e excreções, acabam por causar aquela sensação de que tudo aquilo já foi visto, não há a originalidade que se esperava depois da premissa. Diferentemente dos últimos bons filmes do gênero, citados acima, o terror é ofensivo, daqueles que tentam vencer o público pelo cansaço, não exercitam o fator psicológico.

Mesmo que todas as concessões da história, que ainda envolve um passado que atormenta o policial vivido por Bana e a condição de politicamente incorreto do padre de Ramírez, falta ao filme se decidir entre ser totalmente voltado a atacar a religiosidade ou ser auxiliado por ela. Pois, ao mesmo tempo em que a própria figura sacra do padre não trata os possuídos como vítimas de manifestações demoníacas, as inserções de frases em latim e símbolos do satanismo confundem a narrativa. Parece uma mistura dos tais filmes “B” de assassinatos com os baseados em casos verídicos aceitos pela igreja católica. Fora que os possuídos proferirem palavras em espanhol no momento em que estão sendo exorcizados soa como preconceito, ou seja, só os latinos estavam propensos a receberem o demônio em seus corpos.

Enfim, Livrai-nos do Mal entregou muito menos do que prometeu. Não consegue ser um terror de qualidade e muito menos compensa na parte policial. Com seus poucos sustos deixa o fã do gênero na expectativa de voltar a se excitar com a qualidade de filmes como Atividade Paranormal (2007) e o excelente Invocação do Mal (2013). Se ainda não foi relegado ao hall dos gêneros “encostados” como o faroeste e o musical, o terror parece em stand-by, esperando que algum dia seja novamente alçado à categoria de elite que hoje pertencem ao drama e filmes de super-herói.

Classificação:
Regular

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