A NAMORADA DO MEU AMIGO | LITERATURA

A Namorada do Meu Amigo
A namorada do meu amigo

Quando criança, Cadu não suportava Juju. Ela era a vizinha pirralha, chata e intrometida que vivia perseguindo-o, a ele e seus inseparáveis amigos, Beto e Caveira, com quem formava o grupo dos três mosqueteiros da pequena cidade de Rio das Pitangas, no interior de Minas Gerais. A ojeriza à menina de oito anos era tanta que é com certa alegria que ele recebe, aos 12, a notícia de que ela vai se mudar para longe. Contentamento, aliás, que o faz até ser capaz de uma última indulgência: deixar a fedelha acreditar que ocupa o posto de D’Artagnan no grupo (sem revelar isso aos amigos, obviamente).

Acontece que o tempo passa, Juliana retorna à cidade e não se parece em nada mais com a Juju que foi embora oito anos antes. Cadu se apaixona imediatamente, à primeira (re)vista (se é que isso existe). Mas há um problema: ela já está namorando Beto.

Quem nunca passou por isso que atire a primeira pedra. A namorada do meu amigo, da brasileira Graciela Mayrink, toca num tema relativamente comum na adolescência e início da juventude: a fatalidade de se apaixonar pela mesma pessoa que seu melhor amigo ou melhor amiga e ter de conviver com o dilema entre duas dores: a de perder um amor ou a de perder uma grande amizade. Porque, de um jeito ou de outro, vai doer.

Assim, gostando ou não das escolhas narrativas da autora, há que se concordar que ela conhece seu público e acerta em cheio na temática com a qual ele certamente se identificará. Outro destaque é o fato de o livro ser narrado pelo próprio Cadu, algo incomum nos recentes romances adolescentes escritos por mulheres, nos quais a história é contada, geralmente, sob o ponto de vista da protagonista feminina.

Mas ainda outro ponto de total relevo para o enredo: a identificação com os heróis de Alexandre Dumas. Ao buscar o paralelo com os três mosqueteiros ao invés de qualquer história de fantasia onde o aspecto romântico seja o principal, Graciela já dá dicas de que, nessa trama, o essencial é mesmo a amizade. É emblemático, quanto a isso, que Juju não sonhe nem ser Constance Bonacieux, a mocinha, nem Milady, o arquétipo da mulher fatal. Ela quer ser D’Artagnan, o jovem personagem que passa de admirador a companheiro de seus ídolos.

Não há resposta fácil para o dramático triângulo amoroso formado por Cadu, Juju e Beto. No entanto, no fim, o que resta é a expectativa de preservar sentimentos fundamentais. Sobretudo, a fraternidade.