O QUARTO DE JACK | CRÍTICA – OSCAR 2016

Classificação:
Muito bom

O quarto de jack posterO drama é o principal gênero da indústria cinematográfica, é dele que sempre saem as melhores obras todos os anos. Porém, ele anda um tanto flexível ultimamente, e, os exemplares considerados “dramalhões”, tais como Laços de Ternura (1983), andam em extinção, dando lugar a tragicomédias e psicodramas. Mas, vez ou outra surge um representante lacrimejante, e este ano é O Quarto de Jack. Mas, quem pensa que o longa de Lenny Abrahamson só vem arrancar lágrimas está enganado, o filme é tenso e cruel, mas também é lírico ao nos conduzir através do ponto de vista do pequeno Jack.

Joy (Brie Larson, ótima) é uma jovem que vive em um pequeno quarto com seu filho Jack (Jacob Tremblay), de apenas 5 anos. O quarto, na verdade, é um cativeiro onde ela foi trancafiada pelo sequestrador, que é pai de Jack, e que a mantém ali para violenta-la. Porém, com a ajuda do menino ela bola um plano para finalmente deixar sua prisão. Contudo, os desafios vão além das quatro paredes que os cercam, e a readaptação se mostra tão difícil quanto a confinação.

Muitos diziam que o desafio de se levar O Quarto de Jack aos cinemas era grande demais para um diretor com pouca experiência como é o caso de Abrahamson, que antes só havia dirigido o ótimo (e estranho) Frank (2013). Porém, a sacada foi delegar à própria autora do livro, Emma Donoghue, a missão. E ela cumpre com êxito. O filme consegue se manter lírico mesmo em meio a situação áspera a que somos apresentados pois a roteirista soube explorar o ponto de vista de Jack e seu olhar inocente sobre tudo que o cerca. A primeira metade, a do confinamento é equilibrada por passagens angustiantes, que tendem a arrancar lágrimas mesmo, e outras que causam repulsa.

A sobriedade com que as ações são delineadas, sem apelar ao implausível, também é um ponto a se destacar. Não existe nenhuma situação limite, algo impactante para nos indicar a mudança de direção da história, as coisas acontecem com um teor de suspense elevado, mas nada que ultrapasse o senso de lógica. O direcionamento da câmera, em um ótimo trabalho de Danny Cohen, também alivia a barra, já que está mais interessado no comportamento de Jack em relação a tudo o que acontece do que na situação em si.

Na parte final, onde o verdadeiro desafio estar por vir, é que temos um show de todos os envolvidos na concepção do filme. A direção de Lenny Abrahamson transforma a narrativa do filme, que não perde seu teor melodramático, mas eleva a obscuridade, exaltando a dificuldade de Jack em se adaptar a uma nova existência, tendo de aprender quase tudo do zero, e de Joy, que não sabe como recuperar os anos que ficaram entre as quatro paredes do quarto em que viveu por anos. O diretor fez por merecer sua inesperada indicação ao Oscar de direção.

Brie Larson tem uma atuação ótima, mostrando uma sensatez absurda em um filme em que a qualquer momento penderia para o melodrama puro em simples. Além de saber passar credibilidade quando o espírito de sua personagem se mostra fragilizado ao encarar o mundo real novamente. Apesar de um tanto coadjuvante, seus inúmeros prêmios que recebeu e o (quase) certo Oscar são merecidos. Já Jacob Tremblay tem uma atuação excepcional, segurando inúmeras cenas apenas com um olhar, com uma segurança espetacular. Sua ausência no Oscar é , talvez, a maior injustiça desta edição.

Mesmo que não vença o Oscar de melhor filme no próximo dia 28 de fevereiro, O Quarto de Jack ao menos mostrou que sua vaga entre os finalistas é incontestável. Além disso, prova que existe espaço para dramalhões lacrimejantes no cinema atual, e que eles são bons de assistir. Desde que exista uma boa história que faça sua condição de existência especial.