É interessante ver o nascimento de novos projetos, ainda mais quando a abordagem é diferenciada de outros já existentes. Claro que isso não é um fator exclusivo, já que a grande quantidade de programas de TV nos últimos tempos tem apostado na originalidade para encontrar o sucesso, criando assim suas próprias temáticas dentro de um gênero já existente. Entre tantos, o aspecto policial é o claro destaque. Contudo, ainda existem daqueles que utilizam os dramas familiares e o cotidiano dos protagonistas para apresentar algo ainda mais inovador. Chegando ao mercado home vídeo, a série de TV Ray Donovan é um ótimo exemplo para originalidade e desenvolvimento dramático para o público adulto.
Ray Donovan (Liev Schreiber, indicado ao Globo de Ouro) é um gerenciador de crises, que se sente em casa diante dos problemas… até que os problemas cheguem a sua casa. Ray sabe lidar com as situações complicadas dos ricos e famosos de Los Angeles, com seu estilo de Boston. Mas seu pai, Mickey Donovan (Jon Voight, ganhador do Globo de Ouro), um gângster irlandês, é o tipo de problema que Ray não pode aguentar. Agora em liberdade condicional, Mickey volta para retomar seu lugar na família, sua vida e busca vingança contra o filho que o entregou 20 anos atrás. Enquanto isso, muitos outros problemas ainda surgem com tal retorno, já que o passado acaba sendo remexido e a família Donovan acaba tendo que reviver inesperadamente alguns de seus antigos traumas.
O fator mais consistente para esse programa é o simples fato de que ele é único. Não existe uma narrativa parecida com a trajetória apresentada, já que foge de aspectos policiais e dramáticos comuns, mas não deixa de apresentar os problemas cotidianos de uma família. Entre tudo o que é apresentado, destaca-se o simples fato de que Ray luta para que o seu trabalho não chegue em seu lar, para assim evitar conflitos e explicações. Com isso, o roteiro é desenvolvimento exatamente em cima dessas circunstâncias, mostrando quando elas se misturam e quando são deixadas de lado no cotidiano do seu protagonista. Para isso, a direção é muito bem específica e sabe o que mostrar de mais importante, dando um foco interessante ao projeto.
Além de todos os elementos já citados, o mistério também ronda a temática do programa. Aos poucos o espectador vai conhecendo o cotidiano de Raymond, mas ainda assim existem lacunas que são obscuras em seu passado. Fica evidente que um acontecimento marca ele, mas é algo que vai sendo mostrado na medida certa, com a chegada de seu pai e todo o relacionamento deles no centro da situação. Mickey é claramente um gangster das antigas, não tem um filtro social e parece querer apenas curtição. Ele é exatamente o contrário do que o seu filho buscou se tornar, mas as desavenças não acabam por aí, mas pela culpa de Ray sobre o comportamento de seu pai ao criar ele e seus irmãos. Os maiores motivos parecem girar em torno do fato de que Bunchy foi molestado por um padre e o suicídio de Bridget, sua única irmã.
É com o envolvimento dos irmãos que tudo também acontece. A guerra do protagonista entre os problemas do trabalho, questões familiares e o retorno do seu pai vão aos poucos se misturando, virando uma coisa só. Bunchy e Terry e o meio-irmão Daryll (Pooch Hall) acabam sendo o centro de muitas situações envolvendo o patriarca da família, enquanto Ray não concorda com sua presença e desconfia de suas ações. Entretanto, o drama ainda piora quando o recém-chegado passa a se envolver com seus netos, Conor e Bridget, e sua nora, Abby. A situação passa a ficar tensa, gerando diversos conflitos e reviravoltas surpreendentes.
Além de um ótimo desenvolvimento da trama em cima dessas questões familiares, outro fato que chama muita atenção na série de TV são as atuações. Independente da idade, o elenco tem o seu espaço garantido através de ótimas atuações. Começando por Devon Bagby e Kerris Dorsey, responsáveis por interpretar Conor e Bridget, passando pelos intérpretes de Bunchy e Terry, respectivamente Dash Mihok e Eddie Marsan, e tendo um excelente destaque em Paula Malcomson, que vive Abby Donovan. É claro, todo o restante do elenco coadjuvante também tem o seu mérito, mas esses nomes somados ao de Liev Schreiber e Jon Voight carregam o projeto com os dramas de seus personagens e suas qualidades.
É claro, nada disso seria possível sem um excelente enredo. Tudo se encaixa com o desenvolvimentos dos episódios, independente se são questões do passado ou presente. Conflitos são presentes, mistério vão sendo revelados, traumas vão se fazendo cada vez mais presente. O temperamento e o trabalho de Ray também são pontos importantes para o desencadeamento de fatos, servindo como uma ponte de ligação para diversos momentos no programa, já que o mesmo não gosta de misturar vida pessoal com profissional e não consegue evitar isso. Ele até tenta, age de formas diferentes dentro e fora de casa, mas tudo lhe alcança e transpõe barreiras quando ele menos espera. E mesmo assim, no meio de tantas turbulências, a trama ainda consegue destacar toda a união do protagonista com seus irmãos por conta de suas histórias.
Além disso, o projeto ainda possuí grandes reviravoltas e cria excelentes momentos de muita tensão, deixando o espectador realmente na espera de uma resolução. O FBI também é envolvido em boa parte dos episódios para isso, deixando uma grande incerteza no ar e gerando ótimas discussões de moral. De tal forma, com todas essas questões e elementos, nada mais poderia ser esperado do que uma excelente season finale com muitos fantasmas do passado e a promessa de que o novo ano pode ser ainda melhor. Realmente, Ray Donovan é uma promessa de algo que chegou para ficar.
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