SUPERNOVA – O ENCANTADOR DE FLECHAS | LITERATURA

SupernovaSeguindo o vácuo de Harry Potter e sua mania de magias (que J. K. Rowling insiste em prolongar), Supernova mostra um mundo de preconceito em relação aos magos. Um mundo não, uma cidade. Acigam teve seus limites fechados anos atrás, impedindo comerciantes de entrarem e saírem, para não haver troca de influências externas. Além de um trem de mercadorias, devidamente inspecionado pelo governo, nada passa pelos limites definidos.

Dentro da cidade a situação não é boa. Embora pareça tranquila para boa parte dos moradores, que acredita (ou finge) em tudo o que o governo diz, os magos são sempre perseguidos e vigiados, e desaparecem sem deixar vestígios ou explicações. Por isso, quem é mago prefere ocultar seus poderes e fingir ser Nulo, como são chamados os que não possuem o controle da magia.

Num prólogo elucidativo, Renan Carvalho explica como se desenvolve a magia do mundo, para que o leitor não fique comparando com outras obras do mesmo tipo. Na origem de tudo, o Big Bang da magia, como relata um livro didático de Acigam, as seis energias se espalharam pelo universo. Terra, Água, Ar e Fogo somam-se a Luz e Trevas para gerar diferentes poderes e cada indivíduo deve aprender, com treino e orientação, a cuidar dos seus.

Os magos, como bons rebeldes, se organizam numa sociedade secreta chamada Guilda, que trama formas de combater o governo e descobrir as verdades ocultas pelas manobras políticas. Enquanto fora de Acigam a magia é parte do cotidiano, ali dentro só se pode falar dela em reuniões secretas. Quem faz parte desse grupo é o avô de Leran. Aliás, como o jovem descobre em pouco tempo, seu pai foi um dos líderes do grupo, assassinado pelos silenciadores.

Leran mal sabe controlar seus impulsos, que treina com o avô escondido da mãe, quando descobre tudo o que ocorre na cidade. E faz isso da pior maneira: vendo silenciadores em ação. Esses seres, criaturas vestidas de preto, são treinados em diversas formas de luta e capazes de gerar silêncio por um raio que envolve os magos, incapazes de controlar suas magias quando afetados. Ao presenciar a morte de um mago, Leran testemunha o que acontece nos bastidores da cidade.

Nesse momento, três ritos de passagem fazem o leitor acompanhar o amadurecimento do personagem: o primeiro deles, o final do tempo na escola. Em seus últimos dias de aula, Leran recebe de presente do professor um conjunto de arco e algumas flechas, pois é considerado pelo mestre o melhor aluno nessa modalidade que já passou por suas mãos. Pelo mesmo motivo, na festa de formatura é convidado pelo chefe do exército para integrar o contingente, trabalhando para o governo.

Outro fator marcante é a descoberta de que sua família é, historicamente, parte da Guilda e, ainda, que sua irmã tem poderes. Ela e a mãe escondiam isso de Leran, que descobre ao ver a irmã se descontrolar e matar perseguidores. Sem saber lidar com tudo isso, vê-se envolvido na confusão entre segredos de família e questões de política e magia.

O terceiro ponto é a descoberta do amor. Leran se apaixona por Judra, jovem de sua idade com quem esbarra no mercado. Em meio a toda a confusão que presencia, tem que se definir entre contar tudo para ela ou mantê-la em segurança, afastada desse mundo de magia. Mal sabe Leran que Judra também tem seus segredos e está na mesma situação que o rapaz: contar tudo seria tolerável para ele?

Num ritmo que oscila bastante, Renan Carvalho consegue despertar e manter a curiosidade do leitor ao longo da história. Se por um lado descreve demais e demora a entrar em ação (o que não chega a ser prejudicial, pois contextualiza a narrativa), por outro faz saltos por momentos que crê desnecessário detalhar. Como descreve demais algumas cenas, esses saltos, sobretudo no último capítulo, aparentam mais uma correria em direção ao fim do que uma velocidade dos acontecimentos.

Nada que faça o livro ser deixado de lado. O autor consegue, num recurso que não é novo, mas que pode ficar chato quando mal utilizado, fazer a narrativa voltar no tempo para ser contada por outro ponto de vista. E mesmo leva à curiosidade pelo capítulo extra que a edição oferece, o qual, se não dá prosseguimento à história, aprofunda alguns pontos. Tantas mortes em uma narrativa tão juvenil pode destoar, mas basta refletirmos para que o óbvio surja: é uma guerra e nela mortes acontecem aos borbotões. As explicações foram dadas neste volume, vamos ver como Renan Carvalho se resolve no próximo.