8-Bit Hordes | Meu RTS por um mouse e teclado

Jogos de estratégia em tempo-real marcaram os anos 90, época na qual os computadores se tornavam equipamentos obrigatórios dentro das casas. Entre os principais nomes de RTS estão StarCraft, WarCraft, Age of Empires, Command & Conquer e Civilization, todos com o teclado e o mouse como aliados para comandos complexos.

Desta forma, os controles dos consoles – com seus poucos botões e analógicos – nunca foram capazes de reproduzir a jogabilidade refinada que gênero exige. 8Bit Hordes tenta capturar lembranças dessa época, mas será que vale a pena? Confira na nossa análise!

O que sai do cruzamento de Minecraft com Age of Empires?

Publicado pela SOEDESCO e desenvolvido pela Petroglyph Games, 8Bit Hordes faz parte da 8-Bit RTS Series, uma recompilação dos jogos originalmente lançados para PC em 2016. O primeiro deles, 8-Bit Armies, chegou aos consoles em 21 de setembro de 2018 e, o segundo, fruto desta análise, 8-Bit Hordes, em 1º de fevereiro de 2019. Um terceiro capítulo, 8-Bit Invaders!, foi lançado no dia 26 do mesmo mês.

O grande atrativo do game é a tentativa de resgate do gênero RTS com um visual retrô em pixel art, bem cúbico mesmo, uma espécie de filhote entre Age of Empires e Minecraft. No começo, superando o tedioso tutorial, os gráficos são legais e encantam, mas alguns detalhes poderiam passar por cima da escolha artística. A escolha do texto é o primeiro deles, pois os artistas poderiam ter escolhido uma tipografia moderna, combinaria com o visual do game e aproveitaria melhor o espaço que as letras quadradonas ocupam, criando grandes blocos de texto. Somando-se ao texto, está o desenho da interface – a fonte e os menus fazem da navegação, pelo menos com controles, um inferno a parte.

8-Bit Hordes
Meu reino por um cavalo! (Foto: Divulgação)

Piu-Piu sem Frajola, campanha sem história

Já na campanha, é hora de escolher entre as facções disponíveis e, no melhor estilo fantasia de WarCraft, os Lightbringers estão do lado dos heróis humanos, enquanto os DeathSworns equivalem aos orcs. Contudo, não há uma história permeando a campanha. O que existe é basicamente uma playlist de cenários nos quais as facções se enfrentam. Jogos de estratégia, historicamente, demandam pelo menos um mínimo de história como fio-condutor.

Com o game rolando, os controles funcionam melhor do que nos menus, mas a um certo custo: simplificados ao extremo para atender as limitações de um controle. Alguns botões estão vinculados permanentemente a algumas unidades de combate, para facilitar sua seleção.  Assim, o jogo tenta se adaptar aos consoles cortando recursos indispensáveis que são inerentes ao gênero. Tentei usar o controle e mouse no Xbox One, mas seria necessária uma atualização da desenvolvedora para dar o suporte.

8-Bit Hordes
A arte simples é o ponto alto do jogo. (Foto: Divulgação)

O ponto alto na estrutura de 8-Bit Hordes certamente está em seus desafios: é possível ganhar entre uma e três estrelas na maioria dos cenários, e para isso é preciso cumprir determinados objetivos – quanto mais difícil, mais estrelas. É possível concluir uma missão completando os objetivos básicos, mas pode ser que o game peça para destruir todas as fazendas inimigas, valendo as três estrelas. E, com o avanço nos cenários, há uma dificuldade crescente, deixando em evidência mais uma vez os pecados da simplicidade de um controle frente a um jogo de estratégia, já que o game fica muito difícil.

Nostalgia para fisgar quem?

Uma pergunta que não consegui evitar ao jogar 8-Bit Hordes foi: este jogo quer chamar a atenção de quem? Por um lado, ele explora a nostalgia de quem jogou muito StarCraft, Age of Empires, os outros já mencionados, nostalgia de quem é fã do estilo que está um pouco esquecido e não aparece muito nos consoles. Por outro, ela só existe em sua mecânica superficial e em sua visão isométrica (aliás, não é possível girar a câmera, apenas aproximá-la ou afastá-la).

8-Bit Hordes
Não há qualquer tipo de explicação se as facções estão em guerra e porquê. (Foto: Divulgação)

Há ainda modos multiplayer e até mesmo um PvP cooperativo, sendo possível escolher qualquer uma facção qualquer das três expansões. Contudo, dificilmente este detalhe será um motivador para jogadores experientes. Jogadores novos em RTS não ficarão por muito tempo, pois além da supersimplificação de comandos, do tutorial arrastado e da falta de uma campanha coerente, o jogo é naturalmente lento para os padrões atuais.

Veredito

Infelizmente, o ponto alto de 8-Bit Hordes é o visual divertido. Em todas as outras áreas, seja por design do game ou pela limitação dos consoles, o game fica devendo. Há alguma diversão superficial, rápida, consequência de uma vontade nostálgica em reviver a sensação de virar madrugadas jogando em rede com amigos. É impossível encontrar alguém online ao acaso. A supersimplificação de comandos e a falta de narrativa transformam o game em um desejo não correspondido de jogar estratégia em tempo-real no com visuais de Minecraft. Talvez consoles não serão nunca a casa de jogos de estratégia em tempo-real.

8-Bit Hordes | Meu RTS por um mouse e teclado

8-Bit Hordes está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC, via Steam, GOG.com e Humble Bundle, com o preço variando de acordo com a plataforma. No Metacritic, o título teve média de 63 pontos em sua versão de console.

*Review elaborado usando a versão de Xbox One do jogo. Cópia fornecida pela desenvolvedora.