NI NO KUNI II: REVENANT KINGDOM | É assim que se faz um JRPG

JRPG é um gênero escasso no mercado ocidental. Nos últimos anos, os destaques maiores foram Final Fantasy XV, que ficou mais de dez anos em produção, e Persona 5. Outros títulos chegaram a fazer algum sucesso, como Tales of Berseria e Ys VIII: Lacrimosa of DANA, mas nada que chamasse muito a atenção do público brasileiro. Até agora. Até Ni No Kuni II: Revenant Kingdom, lançado pela BANDAI NAMCO Entertainment America no dia 23 de março, após alguns anos em produção.

Com um mix de elementos clássicos e modernos, Ni No Kuni II traz uma das mais marcantes experiências de um JRPG nesta geração. Com muitas horas de jogo, muito conteúdo e, principalmente, muita diversão, o game surge como um dos grandes lançamentos do ano. Os motivos disso você confere com a gente agora, em mais uma crítica do Jornada Geek!

Uma história sem precedentes

Ni No Kuni II é direto. Logo no início, somos apresentados à Evan Pettiwhisker Tildrum, um jovem príncipe, que prestes a se tornar rei, sofre uma tentativa de assassinato e é obrigado a fugir de Ding Dong Dell, seu próprio reino. Roland, seu fiel companheiro, veio do “nosso mundo”. Ele é o presidente de uma importante nação, que acabou sendo teleportado para o mundo encantado momentos antes de uma explosão quase o matar.

Evan ainda não havia conquistado o seu direito de ser rei, concedido pelos kingmakers (criadores de reis, em tradução literal). Então, após perder o controle do local que viria a governar, e descobrir que seu pai havia sido envenenado ao longo de um mês, decide que não quer mais sofrimento no mundo. A solução é a mais inocente e pura possível: a criação de seu próprio reino, Evermore. Um local onde as pessoas possam ser felizes e que receba moradores insatisfeitos de todos os locais. Evan busca se tornar o líder de todo o mundo.

Ni No Kuni II: Revenant Kingdom
Evan, Roland e Tani, os protagonistas do game. (Foto: Divulgação)

Essa é a base da narrativa de Ni No Kuni II. Ao longo de quase 35 horas de gameplay, somos apresentados à uma densa história criada pela LEVEL-5 Inc. Para ser rei, Evan precisa convencer um kingmaker, ter aliados e, claro, moradores para o seu país. Logo de cara, já pegamos empatia por Evan e Roland. Os outros personagens que se juntam à dupla são Tani e seu pai, Batu, além de Leander e Bracken, que chegam ao grupo tardiamente.

No entanto, até a equipe ficar completa, são necessárias algumas horas de jogo. O mesmo acontece para o vilão verdadeiro surgir. É uma forma interessante de se contar a história, até porque se ela não tiver surpresas, provavelmente significa que não foi legal. Não é o caso de Ni No Kuni II.

O que mudou?

Ni No Kuni: Wrath of the White Witch foi lançado no ocidente em 2013, exclusivamente para PlayStation 3. O jogo teve uma excelente aceitação da crítica e de público, sendo considerado um dos melhores JRPGs da geração passada. Por isso, talvez, a expectativa por uma sequência tenha sido tão grande.

Ni No Kuni II melhora um jogo que já era bom, introduzindo mecânicas mais fáceis e que dão mais dinamismo ao gameplay. Se no primeiro game da franquia as batalhas eram feitas com os familars, os monstros que tínhamos que capturar primeiro, depois treiná-los e usá-los em batalha, aqui o cenário é direto. Os protagonistas estão com armas na mão e as batalhas acontecem com eles. Isso pode até ser explicado porque Olivier, o herói do primeiro jogo, era claramente mais novo do que Evan, além de ter vindo do “mundo real”.

Ni No Kuni II: Revenant Kingdom
As batalhas são muito mais dinâmicas do que no título original. (Foto: Divulgação)

Mas não foi somente a forma de batalhar que mudou. Se no primeiro jogo você dizia o que o seu familiar tinha que fazer, agora temos batalhas em tempo real e com mais liberdade. Podemos pular para atingir monstros aéreos, fazer combos com botões de ataque e desviar de golpes inimigos. Isso sem contar as magias, que dão um grau a mais de facilidade na hora dos confrontos.

Há ainda um sistema de escolhas de armas que é um pouco confuso e o jogo não deixa muito claro como funciona. Como você pode equipar até três armas por vez, elas tem uma certa eficiência em campo e, consequentemente, mais dano. Só que a própria IA do jogo te recomenda deixar no automático, então, faça isso e evite dores de cabeça desnecessárias.

Como todo bom JRPG, muitas horas pela frente

Se tem algo que caracterizam os RPGs japoneses, são o tempo de jogo. Raros são os jogos feitos para serem terminados em pouco tempo e Ni No Kuni II vai te garantir muitas (muitas mesmo) horas em sua vastidão de conteúdo extra.

A primeira delas é brincar com Evermore. Quando você chegar em determinada parte do jogo, poderá sentar no seu trono e distribuir ordens do que você quer que seja construído e o que você quer que determinada instalação produza. Essas tarefas utilizam dinheiro próprio, produzido pelos próprios moradores do reino, que tornam viciante sua tarefa de manager. A brincadeira fica ainda mais interessante porque essas tarefas precisam de tempo in-game para serem concluídas e muitas delas precisam que os moradores tenham habilidades específicas para fazê-las, então, você vai gastar muitas horas em missões secundárias.

Ni No Kuni II: Revenant Kingdom
Construir e aprimorar Evermore é um dos passatempos mais divertidos do game. (Foto: Divulgação)

Falando em missões secundárias, Ni No Kuni II também traz muito conteúdo nessa parte. Mas elas não são chatas e repetitivas, como acontece em alguns jogos. Aqui, elas tem propósitos maiores do que te darem cosméticos e um ou outro item mais legal. Em sua ampla maioria, você vai fazer missões secundárias para melhorar seu novo reino, trazendo novos moradores e ganhar mais dinheiro.

Por fim, o jogo traz um modo muito divertido de batalhas no mapa-mundi chamado de skirmish. Esses duelos acontecem entre o exército de Evermore e outras tropas espalhadas pelo mundo. Evan fica ao centro de seus comandados e caminha por uma determinada região do mundo, indo de encontro aos inimigos que irá enfrentar, seja em batalhas corpo-a-corpo ou a distância.

Ni No Kuni II: Revenant Kingdom
Modo Skirmish, no detalhe. (Foto: Divulgação)

O mundo encantado

Eu poderia jogar toda a minha resenha no lixo se não falasse da beleza que Ni No Kuni II: Revenant Kingdom trouxe. Trabalhado em cel shading, e com cutscenes que foram criadas como anime, a LEVEL-5 nos entregou um visual primoroso. Em suas configurações máximas, que não são muito pesadas, o título entrega uma beleza rara de se encontrar em jogos do gênero.

Ainda sobre o trabalho visual, existem dois tipos de batalha: no mapa-mundi, o jogo te transporta para a batalha, enquanto que dentro de dungeons, as batalhas acontecem naturalmente, como em um RPG de ação. As transições são feitas de forma extremamente suaves, o que é um ponto bem interessante.

Ni No Kuni II: Revenant Kingdom
O mapa-mundi chama atenção pela beleza e cuidado em que foi construído. (Foto: Divulgação)

Nem tudo são flores

Embora Ni No Kuni II tema muito mais pontos positivos do que negativos, é impossível não criticar a BANDAI NAMCO e a LEVEL-5 pela não localização do jogo para português. É difícil até de entender, visto que outras franquias publicadas pela própria BANDAI já tiveram títulos traduzidos desde a geração passada, enquanto um grande lançamento vem em inglês em pleno 2018. Para quem entende a língua, obviamente, não é um problema, mas certamente o game venderia muito mais por aqui se fosse traduzido.

Além disso, um fato que chama atenção é que Ni No Kuni II é um jogo fácil. Por definição, o game não tem nenhuma forma para controlarmos o nível dos monstros inimigos e, após adaptado ao sistema de batalhas, até mesmo adversários com níveis superiores aos seus são derrotados com facilidade. Vantagens para um, desvantagens para outros, mas é o meu dever citar.

Ni No Kuni II: Revenant Kingdom
Jogo não tem opção de legendas em português. (Foto: Divulgação)

Por fim, as caixas de diálogo que aparecem durante o gameplay, fora das cutscenes, não tem dublagem e desaparecem rapidamente da tela, a medida que você anda. São comentários feitos pelos personagens sobre determinadas situações, que acabam passando despercebidos, caso o jogador quisesse saber um pouco mais. Mais uma vez, quem não domina o inglês, pode sentir a dificuldade na demora para “traduzir”.

Veredito

Mas, quando colocamos tudo dentro do pote da verdade, é inegável que Ni No Kuni II: Revenant Kingdom entrega uma das melhores experiências do gênero até aqui nessa geração. Com gráficos belíssimos, jogabilidade agradável e uma história cativante, é fácil se apaixonar por Evan, Roland, e seus amigos. Diante de um trabalho tão bem feito em tantos pontos, só nos resta a recomendar esse excelente JRPG.

Nota Surpreendente

Ni No Kuni II: Revenant Kingdom está disponível para PlayStation 4 e PC. Na PlayStation Store, a versão padrão custa R$ 249,90 e a versão Deluxe, que inclui o Season Pass, sai por R$ 319,99. Já as versões de Steam são encontradas por R$ 159,90 e R$ 219,90, respectivamente.

*Review elaborado usando a versão de PC do jogo. Cópia fornecida pela desenvolvedora.

Jornalista e fã de videogames desde criança. Já teve Mega Drive, Game Boy Color, PS1, PS2, PS3, PS Vita, Nintendo 3DS e agora tem PS4, PSVR e PC Gamer. Para ele, o melhor jogo da história é Chrono Trigger, mas Metal Gear Solid 3, Final Fantasy X, Red Dead Redemption 2 e The Last of Us completam o Top-5.