O PIOR FILME DA VIDA | KINOS

Batman
Batman

As adaptações de histórias em quadrinhos sempre foram um grande filão para a indústria cinematográfica, pois buscam fãs da arte sequencial e levam pra outra arte, à sua maneira, também sequencial, aumentando o público, e podem conduzir pra nona arte os que gostaram do herói que encontraram na sétima. Em qualquer uma das migrações, é fundamental que se tenha um bom personagem, uma boa história ou, pelo menos, uma boa adaptação. Assim, os dois lados crescem.

Esta semana estive olhando uma revista sobre as melhores histórias de super-heróis em diversas linguagens e a cada página me deparava com grandes narrativas, sagas inesquecíveis e reviravoltas instigantes no formato, principalmente, em quadrinhos. Quase todas as histórias, no entanto, são dos heróis mais populares, e na parte do cinema, onde há um top 10, a única produção do milênio passado é o primeiro Superman, de 1978, dirigido por Richard Donner e imortalizador do cabelo pega-rapaz de Christopher Reeve.

Antes dos anos 2000 só foi feito um filme de herói que valesse estar na lista do 10 mais? Com esta pergunta, me vi correndo a memória pelo histórico do cinema de adaptações dos quadrinhos e alguns bons nomes me vieram à mente. Pra não ficar nos óbvios, busquei nos menos conhecidos e Corpo fechado, do incógnita M. Night Shyamalan, me ocorreu sem demora. Dos filmes que fez, é o preferido do diretor e quase concordo com ele. Um filme repleto de simbologias ampliando as significações dos personagens, assim como ângulos e movimentos de câmera que remetam diretamente aos quadrinhos.

Em meio ao mundo sombrio, pensei também em O Corvo, em que Brandon Lee interpretava o papel principal, embora com menos sorte que o protagonista. Um bom filme, cuja dose de violência adequa-se à narrativa e à fotografia, além de algumas cenas remeterem (ou o inverso, como manda a cronologia) ao Batman de Nolan. Ou o Corvo não pode ser considerado super-herói porque não tem poderes e por isso não está na lista? Se bem que a lista traz o Batman e o Homem de Ferro, que têm o mesmo poder, que não é super.

Uma das histórias mais interessantes boladas nos quadrinhos recentes foi a do anti-herói Spawn, cria de Todd McFarlane, cujo traço marcou uma boa fase do Homen-Aranha. Um policial negro morre e vai pro inferno, onde consegue negociar sua volta pro mundo, mas com uma condição: tem um medidor de energia que, se exaurido, o levará de volta ao inferno. Beleza, pensou o homem, é só economizar. Porém, ele voltou como um ser grotesco envolvido em um uniforme, com uma corrente que obedecia seu pensamento e uma capa que parecia viva. Seus poderes permitiam que ele fizesse tudo o que imaginasse, inclusive assumir a forma humana: sempre de um homem branco, loiro e de olhos azuis. Bravo com o demônio, resolve se vingar e praticar o bem. Mal sabe ele que os bandidos que mata vão justamente pro inferno.

Personagem legal, história legal, desenhos legais e lá vem a adaptação. Tinha tudo pra ser legal e essa expectativa me levou com um amigo, o Chato (isso é nome, não adjetivo), pro cinema. Estudantes secundaristas, felizes e ingênuos, saíamos até de alguns filmes que hoje consideraríamos ruins com um ar leve e alguma coisa positiva pra levar pra casa. Nesse dia nosso lado Poliana não funcionou e nas várias horas de conversa que tínhamos pelas ruas da cidade depois de sair do cinema fizemos um pacto: ver todos os filmes que entrassem em cartaz até encontrar algum pior que o Spawn.

Foram poucas semanas até isso acontecer, e vimos tudo o que vinha pra cidade, que então tinha seis salas de cinema. Numa dessas cegas empreitadas, nos deparamos com o pior filme de nossas vidas (até então, mas afirmo que da minha continua sendo): Power Rangers Turbo. Até hoje, quando saio de um filme ruim de herói, mesmo quando é ruim com força, penso que poderia ser pior.