WE HAPPY FEW | Fuja do sistema!

Antes de mais nada, peço licença a vocês, caros leitores, para iniciar essa crítica de uma maneira diferente. Ao longo de mais de 50 análises feitas para o Jornada Geek, tive o prazer e a oportunidade de poder me aprimorar de forma constante, observando aspectos que são de extrema importância para nós, jogadores. E em We Happy Few, me deparei com inúmeros impasses que serão mostrados nesse texto.

Particularmente, não procuro ler reviews antes de tomar minhas próprias opiniões, algo que evita enviesar o meu pensamento crítico. Mas, por vezes, a internet e meu círculo social acabam me trazendo algumas informações sobre os jogos, algo que acabou me fazendo pesquisar um pouco mais sobre o game.

A mídia em geral não gostou do que We Happy Few trouxe e, parcialmente, concordo com alguns pontos, mas tenho ressalvas que serão apontadas ao longo da review. Mas aqui, há algo a ser exaltado: em um mundo de jogos com histórias cada vez mais genéricas, o título da Compulsion Games é um alento. Sua história é um bom ponto de reflexão da sociedade atual. E isso ocorre justamente enquanto nos entretêm.

Espero que vocês gostem da crítica e opinem. Afinal de contas, um debate saudável é sempre enriquecedor para ambas as partes, e é uma honra poder escrever pra vocês.

A história

We Happy Few prometeu muito após ficar por um longo período em Early Access desde 2016, onde a comunidade teve chances de testar e descobrir alguns bugs, sendo lançada sua versão final ontem, dia 10. Será que depois de tanto tempo em fase de testes, o jogo entregou o que se propôs?

Para adiantar, antes de mais nada, a trama de We Happy Few é o aspecto que considero como ponto-chave no título. Ela traz consigo uma Inglaterra retrofuturista nos anos 60, onde os nazistas tiveram êxito na invasão da ilha durante a Segunda Guerra Mundial. Como se não bastasse, o personagem principal, Arthur Hastings, conta com uma série de memórias envolvendo os moradores da cidade fictícia de Wellington Wells. Um dos personagens de suas memórias é seu irmão, Percival.

We Happy Few
Embates poderão ser constantes. (Foto: Divulgação)

Em meio a loucura de uma Inglaterra tomada por inimigos, o uso da droga Joy (alegria,  em português), torna-se uma obsessão do povo de Wellington Wells. Quem não usar a droga, é caçado e forçado a tomá-la. Em alguns momentos, a história parece remeter a obra de George Orwell, 1984, onde o “grande irmão” vigia e tenta controlar a todos. Arthur é um dos poucos a conseguir fugir da comunidade, não utilizando das pílulas de alegria, algo que o configura como um downer (ou deprimido, em português), e o faz perceber o quão deplorável encontra-se a sua cidade. Enquanto isso, os usuários seguem vivendo como se tudo fosse lindo e colorido enquanto, na realidade, estão em meio à ruínas e mortos.

Essa é uma forma resumida da narrativa que, de fato, é muito mais profunda e conta com muitos outros personagens. Nela, tive uma ótima experiência imersiva com emoções muito fortes como, por exemplo, a constante tristeza do personagem principal que, em alguns casos, tem que matar outras pessoas para conseguir sobreviver dentro da realidade, ou as lembranças do dia em que seu irmão partiu no trem para a Alemanha, sendo talvez um possível caminho sem volta, como os campos de concentração.

We Happy Few
Foto: Divulgação

Neste aspecto em específico, We Happy Few é simplesmente brilhante. Seu enredo é cativante e compensa os vários problemas de física que o jogo tem. Aqui, já adianto: se você gosta de gráficos e uma jogabilidade impecável, talvez o título não seja de maior agrado. Eu particularmente gostei bastante, mesmo com esses erros. De fato, é uma pena que uma história tão profunda quanto essa seja freada por uma jogabilidade um tanto quanto complicada. Falarei mais sobre isso logo abaixo.

Física um pouco confusa

Não sei se fiquei cativado pela história em si e, automaticamente acabei me adaptando ao estilo de jogo, mas não sou tão crítico a física de We Happy Few. Claro, há de se ressaltar o fracasso ocorrido nas partes onde tentei ir pelo modo sorrateiro, onde eu enganava os inimigos de formas tão tolas, que perdiam até um pouco da emoção. Não sei se isso é específico de alguns pontos do jogo, mas dava um certo incômodo. Nada demais, é verdade, mas ainda deve ser observado como um problema.

Outra questão um pouco complicada é a dinâmica em primeira pessoa, que parece não responder tão bem como os vários títulos AAA que temos. Isso é até aceitável, visto que We Happy Few é uma produção menor, embora tenha ficado quase dois longos anos em acesso antecipado para os seus financiadores. Esse aspecto em específico vai sendo dominado com o tempo, mas bem que poderia ser aprimorado.

We Happy Few
Bem, os guardinhas até que tentam, mas não é difícil enganá-los… (Foto: Divulgação)

A movimentação é um pouco travada, e os personagens rivais são até simples de serem derrubados, mesmo estando em maioria. Tudo bem que existem algumas habilidades de defesa, mas não há lógica alguma em não ser cercado por três inimigos. Faltou essa “tática” para a inteligência artificial.

Jogabilidade e gráficos

Em questão de jogabilidade, seguindo o que foi dito na questão física, We Happy Few tem alguns aspectos comuns a outros títulos. A possibilidade de criar itens e depender diretamente das coletas feitas é um aspecto interessante e que traz alguns traços de títulos survivor. Você deve tomar cuidado com o que come ou bebe, visto que uma comida estragada pode causar uma “virose”, afetando o desempenho do personagem, assim como o álcool deixa a visão em primeira pessoa um pouco embaralhada. Parece um simulador, mas está bem longe disso, embora a ideia seja legal, trazendo aspectos como o sono, a alimentação e hidratação do personagem como pontos importantes e necessários.

Os diálogos são bem interessantes, dando maior imersão ao enredo. Os gráficos não são magníficos, mas trazem um toque cartunesco bem interessante, que parece se encaixar perfeitamente na narrativa. A questão visual certamente não é a prioridade deste jogo, o que não configura um grande problema.

We Happy Few
O jogo tem muitos mistérios. E isso é bom. Foto: Divulgação.

Veredito

Como disse anteriormente, We Happy Few é um jogo com uma história brilhante, e isso me empolga muito. Mesmo com os problemas na física, é um título que merece um pouco mais de atenção, apesar da grande mídia dizer o contrário. É uma boa reflexão da sociedade e um thriller desafiador. Vale a pena explorar cada pedaço dos arredores de Wellington Wells e ler cada uma das pichações encontradas ao longo da caminhada.

Se formos balancear jogabilidade e história, este título até que se sairá bem. É óbvio que o ideal seria um pacote de atualizações que corrigissem tais erros inconvenientes, mas acredito que eles sejam normais, assim como podemos observar em tantos outros jogos. É bom deixar claro que não joguei as versões anteriores, e isso pode ter sido fator definidor desta minha crítica. Sabe-se, através da imprensa especializada, que o jogo sofreu com diversas modificações ao longo de seu acesso antecipado. Isso para alguns pode ter feito diferença, mas prefiro manter meu otimismo quanto ao título, e sugiro aos fãs de uma boa narrativa que deem uma chance para We Happy Few.

Nota ótimo

We Happy Few está disponível para PC, via Nuuvem, Xbox One e PlayStation 4. O título teve média de 62 pontos no Metacritic, mesmo com todo o hype em torno de seu lançamento.

*Review elaborado usando a versão de PC do jogo. Cópia fornecida pela desenvolvedora.