CAÇADA MORTAL | CRÍTICA

Caçada Mortal
Caçada Mortal

O mais “B” dos gêneros que povoam o cinema atual é o filme policial, aqueles onde um homem pega uma arma e banca o justiceiro. Quase sempre lançados direto em vídeo, consegue vez ou outra algum destaque com seus principais nomes na atualidade, Nicolas Cage e Liam Neeson, e nem sempre isso garante qualidade ao produto. Porém, eles têm seu público fiel, daqueles que ficam inebriados com os absurdos sonoros e visuais proporcionado a todo momento em tais produções. Por isso mesmo, ainda se promove alguns, como o novo de Neeson, Caçada Mortal, que, diferente da maioria de seus páreas, não é presunçoso e nem promete mais do que pode entregar. Com um roteiro simples, mas com muita tensão, nos coloca no jogo de “gato e rato” de um ex-policial e psicopatas. E o melhor? Neeson em grande forma.

Matt Scudder (Neeson) é um ex-policial que age agora como detetive particular, atuando muitas vezes sem os critérios da lei. Ele é assombrado pelo seu passado, onde em uma perseguição a bandidos, acaba ferindo mortalmente uma garotinha de sete anos. Quando é procurado pelo traficante de drogas Kenny Kristo (Dan Stevens) para encontrar os bandidos que sequestraram, estupraram e assassinaram sua esposa. Depois de relutar, Matt aceita o serviço, mas, quando se aprofunda no caso, descobre que a morte da esposa de Kristo está relacionada a uma série de crimes brutais contra mulheres.

A premissa de Caçada Mortal é banal mesmo, com os mesmos arquétipos construídos durante anos, depois que o gênero deixou de ser nobre após os dourados anos 70 de Dirty Harry, Popeye Doyle e cia. Mas, o que faz o roteiro do diretor e roteirista do longa Scott Frank funcionar é justamente a simplicidade, pois não inventa nada que poderia se tornar forçado demais para os desenrolar da trama. Além disso, soube jogar com o que tinha à disposição, injetando tensão, flashbacks, alguma carga dramática, e referências aos grandes personagens do gênero, como o Philip Marlowe, citado pelo pequeno ajudante de Matt, TJ (Brian “Astro” Bradley).

Não que tenha conseguido fazer um exemplar “Neo-Noir”, mas Frank trabalha os conceitos de bem e mal usando a figura do ex-policial de forma imparcial, atribuindo-lhe defeitos, impondo-lhe dificuldades, ou seja, tomamos o personagem central como um homem fazendo seu trabalho, não um herói com capacidade acima do normal. Talvez apareça um certo tom exagerado nas relações interpessoais, e o desfecho caia no previsível, mas o filme é construído para ter em suas complicações o ponto central, ou seja, o interessante mesmo é montar o quebra-cabeças e relacionar a morte da mulher do traficantes com outras que tiveram o mesmo infortúnio.

Frank, que faz sua estreia na direção de longas, se mostra seguro, e não tentar construir nada acima teria condições de conduzir. Talvez, por ter feito sucesso com roteiros de filmes como Minorty Report – A Nova Lei (2002) e Wolverine – Imortal (2013), sabe que para seguir vivo em Hollywood tem saber esperar e não apostar todas suas fichas. Seu Caçada Mortal não é perfeito, mas consegue ser um dos poucos filmes de “tiro” que sai do limbo repleto de bobagens que tem mais sons de armas que palavras.

A certeza mesmo é que o filme não teria sido a mesma coisa sem Liam Neeson. Depois de ter sido alçado ao estrelato com sua atuação indicada a vários prêmios, inclusive ao Oscar, por A Lista de Schindler (93), o ator passou a ser cobrado por grandes atuações. Mesmo que tenha passado perto em Simplesmente Amor (03) e Kinsey – Vamos Falar de Sexo? (04), foi mesmo na pele do vingador Bryan Mills de Busca Implacável (08) que se encontrou e encontro seu lugar nos gêneros cinematográficos. Seu sucesso garantiu que seu nome fosse maior até que as produções em que se embrenhou, e neste, não é diferente. Mas, consegue comprovar seu talento para valentão justiceiro criando um personagem que se coloca em um meio-termo entre o bem e o mal, além de se sair bem quando necessita-se de algum drama.

Pode até ser que Caçada Mortal seja engolido nas bilheterias e na atenção do público devido aos gigantescos blockbusters lançados nas últimas semanas, e também pelo preconceito criado pelo público dito mais “cult”. Mas para aqueles que são fãs do gênero policial, que adoram ver as caras de mau de Clint Eastwood e Steven McQueen em clássicos, vão ao menos saírem satisfeitos do cinema. Para quem não é fã e se aventurar, pode até não ficar totalmente satisfeito, mas ao menos não ficará com a sensação que jogou dinheiro fora.

Classificação:
Bom