PARA ONDE ELA FOI | LITERATURA

Para Onde Ela Foi
Para Onde Ela Foi

Quando Mia abriu seus olhos, em Se eu ficar, eu fechei os meus. Fechei-os e pensei, por trás das pálpebras: não há maneira de conseguir esperar até que a continuação dessa história seja publicada no Brasil!

Apesar de ter estudado inglês desde a adolescência, confesso que tenho muita dificuldade de ler literatura nessa língua. Livros teóricos não, são mais, digamos, tranquilos (se é que isso é possível). Mas romances? Gosto de mergulhar de cabeça na história, de me embrenhar nela, e a barreira da língua acaba me impedindo de fazer isso.

No entanto, com Para onde ela foi, a continuação da história de Mia, a curiosidade foi maior e imediatamente comprei o e-book no original. Percorri-o quase correndo, chutando as barreiras pelo caminho. O que não me impediu agora, finalmente, com o lançamento da tradução pela editora Novo Conceito, de aproveitar para me afogar nele um pouquinho mais. Plenamente.

Para falar a verdade, cometi um equívoco no parágrafo acima. Em Para onde ela foi, a autora Gayle Forman não constrói a continuação da história de Mia, mas sim da história de Adam. E nela, aqueles que tiraram a lição à qual me referi no texto a respeito do primeiro livro, de que “só o amor salva”, verão que não é tão simples sim.

Três anos se passaram desde que a voz e o apelo de Adam fizeram Mia decidir viver, por mais difícil que essa escolha tenha sido. Mas também se passaram três anos desde que essa mesma escolha fez com que ela se afastasse dele, sem sequer uma palavra e um ponto final. Cada um seguiu seu rumo e fez jus ao seu próprio talento: ela, como concertista em ascensão em Julliard; ele, como astro de rock, com direito a todas as capas de tabloide que o tipo exige.

E então eles se encontram. E têm uma noite para passar tudo a limpo.

Se, em Se eu ficar, somos confrontados com a fragilidade física do estado de Mia, em Para onde ela foi, a fragilidade é toda de Adam, emocional. Até a forma narrativa é mais frágil, talvez sintomática do estado de espírito no narrador-protagonista. No primeiro livro, como destaquei naquele texto, a narrativa se decompõe em duas: de um lado, o presente, cronológico; de outro, o passado, feito de instantes desconectados que simbolizam bem o próprio funcionamento da memória. Além disso, a escritora consegue fazer com que sua narradora de primeira pessoa seja tão onisciente e (quase) onipresente quanto qualquer narrador de terceira pessoa.

Neste segundo volume, essas estratégias narrativas se perdem; de fato, nem têm como ou por que ocorrer. Ressalvados os flashbacks (que nem de longe possuem a mesma função do primeiro livro), a história contada por Adam é linear, porque seu sofrimento também é. Ele sofre há três anos e pelo mesmo motivo: ter sido abandonado, sem qualquer explicação, pela garota que ama e a quem implorou, debruçado sobre sua cama de hospital, para que continuasse viva. Mais até: a quem jurou que sairia de sua vida se ela assim quisesse. Qualquer coisa apenas para saber que ela continuava existindo, ainda que longe, em algum lugar do mundo. E cumpriu.

O foco deste segundo livro acaba sendo muito mais o relacionamento romântico de Mia e Adam, apesar de eles estarem separados, do que o primeiro. E, de certa maneira, em sua forma mais simples, ele consegue ser até mais tocante, porque não há risco de lições. O amor não salva aqui. O que é possível é salvarmos o amor. E, assim, também salvarmos a nós mesmos.